O ciclo da violência doméstica, por vezes, passa pela sutileza dos atos, como se aquela conduta fosse meramente um rompante da vida moderna, ou um excesso de stress que acaba levanto a determinadas ações, mas, é preciso que meninas/mulheres, estejam atentas ao sinais.

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A violência doméstica não é só física, ela é também psicológica, é o ato de humilhar, de subjugar a vítima, de tentar convencê-la, por meio de ações, de sua incapacidade. É o discurso da dependência, aquele em que o algoz usa, propositadamente, de palavras ou situações do cotidiano, para menosprezar a vítima.

Comumente, notamos, que, a maioria das vítimas, têm um processo lento de reconhecimento desse ciclo. A família, os amigos, também levam tempo para compreender e, alguns, nunca enxergarão. Esse ciclo não começou naquela relação específica, é o fruto do machismo, da pouca educação dentro de casa, da ideia de superioridade do homem x mulher.

Desde muito cedo, dentro de suas casas, a maioria dos meninos são ensinados a se comportarem como predadores do sexo oposto, a ideia da autoridade sobre o outro não é uma consequência da vida moderna, mas, uma herança enraizada na sociedade, especialmente, dentro de casas onde mães e pais, pouco educam, ou nada educam seus filhos sobre RESPEITO!

Meninas, por vezes, crescem em um ambiente com pouco ou nada sobre letramento de gênero, a questão passa, obrigatoriamente, pela necessidade de educar e estimular essas meninas a investirem em seus próprios projetos, sem a necessidade de conseguirem se encaixar nos padrões de uma sociedade que, sabidamente, as colocam em posição de inferioridade. Meninas, não podem depender da validação do outro.

O ciclo da violência é estratégico, primeiro o agressor trata de conhecer suas vítimas, suas vulnerabilidades, fraquezas e expectativas, pontos centrais para uma ação de dominância. Usam dessa tática para exercer o controle e trazê-las nas “rédeas”. Estabelecem, naquela relação, a sua base de bombardeio, escolhe o alvo e em qual momento vai atacar. É sempre uma ação sorrateira, ele vai corroendo, palmo a palmo, a capacidade de reação da sua vítima e, assim, ele sabe o momento de agir e dominar.

É preciso que meninas/mulheres, estejam sempre em estado de alerta, Ao menor sinal de violência, por mais sutil que possa parecer, não pode lhe escapar aos olhos atentos. É lembrar e decifrar, agressão não é só física. Não é só o medo que engessa, o acreditar na mudança do outro, também paralisa e faz permanecer o ciclo da violência. O primeiro passo é quebrar o ciclo e o último é não olhar para trás.

Todos os dias, dentro de alguma casa, há uma vítima sendo açoitada. O mundo não enxerga, porque agressores aprenderam a sutileza da violência, sabem como mascarar seus atos. Numa mesa de bar com amigos, eles sorriem aos ventos, nada lhes parece mais sábio do que enaltecer suas vítimas. O verdadeiro artifício da construção desse papel, reside na facilidade que os agressores encontram de mostrar-se amistosos ao mundo.

O enredo próprio da característica da maioria esmagadora dos agressores, passa pela construção da imagem da benevolência, amabilidade e gentileza. No meio em que vivem, constroem a ideia da complacência com o próximo, com amigos, familiares, o que muitas vezes os livram de suas verdadeiras faces. Eles criam um disfarce, notadamente, para descredibilizar suas vítimas. É próprio de quase todo agressor edificar seu retrato de bom homem, no meio em que vive.

A vítima, quase sempre é escrachada pela sociedade, sempre há quem a culpe, sempre há quem encontre um elo, ainda que não existente, entre a agressão sofrida e uma ação por parte da vítima, como se pudéssemos justificar a violência, relativizando o que, na verdade, deveria ser repelido. E nesse exato momento, muitas vítimas vestem a roupagem da culpabilidade, perdem forças, caem do despenhadeiro onde foram colocadas pelo tribunal de uma sociedade pautada na ideologia da supremacia do homem.

São vítimas reféns do medo, encarceradas em suas próprias casas, o mundo não pode oferecer a elas a escuta humanizada, olhos piedosos e, talvez, nem sempre seja uma deficiência de quem está lá fora, mas, uma impiedade própria da incapacidade de agir, que, nasce do apavoramento e da vergonha de ser rotulada. Toda vítima traz consigo o medo do julgamento, é peculiar da fragilidade do seu estado emocional, suas forças já foram minadas e isso é proposital, agressores sabem como abater sua vítimas, mesmo em vida.

Não é um cerco que se fechou ontem, a realidade nua e crua da violência doméstica, nasceu dos olhos fechados da sociedade. Poucos olhavam para essas vítimas e, poucos enxergam essas vítimas. Não é sobre vê-las, mas é sobre enxergar além daquele corpo físico com sinais de cansaço, agressão, medo, angústia, é muita destruição que elas carregam. Entre um sorriso e outro, uma brincadeira, entre uma aparição em público e dias de escuridão sozinha, ali mora o fantasma da solidão, do esquecimento, do isolamento social. Uma vida que vai embora sem que alguém possa resgatá-la do fim.

Quantas vítimas têm um olhar perdido no tempo, um pedido de socorro na voz? Não é só a violência doméstica que mata, é também o descaso, o olhar e não ver, o perceber e não agir!

Em algum lugar há uma vítima escondida do mundo, em algum lugar, há uma vítima aprisionada pelo temor. Pode até ser que as portas estejam abertas, mas, nem todas sabem como sair por ela, nem todas sabem o caminho, às vezes, por mais que pareça simples aos olhos do outro, uma porta aberta, ainda não é a saída.

Se você é vítima de violência doméstica, saiba que você não está sozinha, há meios e medidas cabíveis a serem tomadas. Você não precisa continuar nesse ciclo, é possível romper as barreiras e recomeçar.

Violência contra as Mulheres é crime, DENUNCIE!

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